Histórico das Feiras de Jundiaí
A Feira Livre em Jundiaí
Washington Luís instituiu por meio do Ato 710, de 25 de agosto de 1914, a criação de mercados francos como forma de regularizar a situação das feiras livres na cidade de São Paulo. O ato solveu problemas de periodicidade das feiras e a forma de organização dos feirantes. Desde então o Dia do Feirante (25 de agosto), no Brasil, está associado ao documento que tornou a atividade regular no munícipio.
Nem todos sabem ou podem imaginar que o que hoje vemos perto de nossas casas surgiu como dia santo ou sagrado (A palavra “feira” é originária do latim “feria”), quando as pessoas aproveitavam as festas religiosas para se reunirem e trocarem o que tinham de mercadorias.
Foto ao lado – (Década de 1940 – Rua Senador Fonseca)
Muito embora atualmente as pessoas não tenham o hábito de frequentar as feiras por algum viés religioso o certo é que para muitos esse dia continua sagrado. Além de ser um programa de abastecimento da Unidade de Gestão de Agronegócio, Abastecimento e Turismo – UGAAT em Jundiaí, culturalmente o dia de feira é voltado para uma reunião informal entre as mais diversas pessoas, cada qual com sua origem, classe econômica que busca o mesmo fim: produto de qualidade e procedência, “fresquinho” e muitas vezes literalmente “da roça”.
Foto ao lado – (Vila Arens – 1956)
O público das feiras livres de Jundiaí é privilegiado, pois elas estão presentes na suas mais diversas formas:
- Feiras livres diurnas;
- Feiras noturnas;
- Feira do produtor rural;
- Feiras orgânicas.
Foto ao lado – (Década de 1940 – Rua Senador Fonseca)
A história da Feira Livre de Jundiaí pelo olhar do feirante
Existem poucos registros oficiais sobre o início das feiras em Jundiaí e algumas histórias datam do ano de 1940. Apenas em 1979 foram regulamentadas pela Lei Municipal 2.673, de 26 de setembro de 1979. Para contar esta história partimos de relatos dos feirantes sobre fatos, acontecimentos e suas vivências.
Foto ao lado – (Década de 1950 – Rua Leonardo Cavalcanti – local onde é realizada até os dias atuais)
Os Irmãos Yokota(Conhecidos como “Sr. Paulo” e o “Sr. Jorge” tiveram que deixar as feiras livres por motivos de saúde em 2019), por exemplo, descrevem que começaram a participar das feiras livres quando ainda eram crianças e estão ativos desde 1949. São proprietários do “caminhão 1948” (foto ao lado) e com ele entre 1970 e 2019 trabalharam duramente no comércio ao ar livre. O conserto do veículo sempre foi realizado por eles, e ninguém conhecia o caminhão tão bem, senão eles. O curioso é que sempre foram firmes em negar as mais variadas propostas de troca, venda ou qualquer outro tipo de negociação com o caminhão, considerado pelos interessados uma verdadeira relíquia.
Sr. Jorge (foto ao lado), o mais tímido dos dois irmãos, enfrentando problemas de saúde nos últimos anos, sempre esteve presente na banca com seu irmão Paulo, dia após dia. O atendimento calmo e tranquilo era sua marca. Quando soube do registro da foto, se arrumou, deu um sorrisinho alegre e disse estar muito feliz.
Já o Sr. Paulo (foto ao lado), bem mais extrovertido que o irmão (Sr. Jorge) adorava uma prosa foi quem nos deu maiores detalhes de sua história nas feiras livres de Jundiaí. Buscando na memória contou que ele e o irmão se mudaram com a família para Jundiaí em meados de 1945 e já em 1949, quando tinha cerca de 12 anos, começaram a trabalhar nas feiras. Segundo ele, detalha que as mercadorias eram trazidas por carrinhos, carroças etc., e se podia comercializar “de tudo” na banca. Sempre plantaram o que comercializavam, na região da Serra do Japi, hoje conhecida como Jardim Copacabana, onde permaneceram por 20 anos, e sustenta que tinham as melhores frutas, verduras e legumes na época. Porém, com a construção das Rodovias Bandeirantes e Anhanguera perderam o sossego, sofreram furtos de ferramentas e de hortaliças que plantavam, o que os forçou a se mudarem.
O Sr. Sakai Massau e a Sra. Yuri Sakai, feirantes cerealistas, iniciaram suas atividades em meados 1973. Após 10 anos os filhos do casal, Vilma e Roberto, assumem a banca após o falecimento do Sr. Sakai. Na época possuíam 2 bancas e Vilma sempre acompanhou os pais assumindo com 12 anos a função de ajudante. O Sr. Sakai foi um grande empreendedor e é lembrado com carinho pela filha, assim como seus ensinamentos. Lembra ainda, saudosa, dos tempos em que não existiam supermercados e as pessoas se dirigiam exclusivamente às feiras para comprar produtos como arroz, feijão etc.
Foto ao lado – (Ao centro, Roberto Sakai e ao seu lado direito, Yuri Sakai)
Hoje com a concorrência das redes de supermercados, hipermercados e atacadistas instalados na cidade, Vilma trabalha apenas com um ajudante, e relata que há necessidade de apresentar diferenciais que atraiam e mantenham a clientela. Fotos da época a ser lembrada.
Foto ao lado – (Banca da família Sakai na Feira da Ponte São João)
A Feira Livre nos dias de hoje
Os tempos são outros e se o comerciante não acompanhar a demanda de seus clientes corre sérios riscos de ser “engolido” concorrência. Em tempos de modernidade e tantas tecnologias as feiras livres de Jundiaí passaram a adotar um novo padrão, ainda em construção, da forma como as mercadorias são expostas.
Apenas para exemplificar podemos citar a empresa L&F Pastéis, que tem com sócio e proprietário o Sr. Flavio, feirante desde 1999. Se comparado com os demais pode ser considerado novo, não tendo mais que duas décadas. Contudo, foi o primeiro que inovou sua “banca”, tornando-a uma ferramenta altamente tecnológica com recursos que facilitam sua montagem e desmontagem, afetando direta e positivamente no tempo de espera dos clientes.
De forma resumida, sua unidade comercial conta com um box movido por sistema hidráulico e acionado por mecanismo elétrico, tudo transportado por um veículo (caminhão) altamente adaptado. Toda a unidade comercial conta com piso antiderrapante e amplas janelas para ventilação, atendendo, inclusive às normas sanitárias quanto à exposição de suas mercadorias, segurança e limpeza.
Foto ao lado – (Banca de pastel da “L&F pastéis”, em 2018)
A partir de então outros mais passaram adotar a ideia e hoje as feiras livres de Jundiaí se destacam pela modernidade de suas unidades comerciais que vão de “boxes” automatizados, como o do Sr. Flavio a veículos adaptados dos mais variados (kombis, caminhões, vans etc.).
Foto ao lado – (Banca de roupas do Claudio Fracasso, em 2019, na Feira da Ponte São João)
Desde 2012 Jundiaí conta com feiras noturnas
As feiras noturnas, em especial, têm as mais distintas comidas típicas e não apenas do Brasil, mas do mundo, a depender de sua localização. É um mercado em constante adaptação que, não abandonando a característica de mercado de hortifrutigranjeiro (especialmente), passou a atrair outro tipo de público que busca naquele momento fazer uma refeição após um dia longo de trabalho. E faça chuva ou sol lá está feira noturna, que apesar do nome começa ainda antes do sol se pôr (17h).
Foto ao lado – (Banca no Varejão Noturno da Argos, outubro de 2013)
A demanda por feiras noturnas tem crescido tanto que muitos dos moradores que outrora frequentavam apenas as feiras diurnas passaram a ver mais uma oportunidade. Em tempos como o de pandemia (COVID-19) as feiras se mantiveram firmes e em funcionamento como uma das melhores alternativa de alimentação, em razão da qualidade e procedências das mercadorias. Para que ela pudesse funcionar, perante um cenário onde todas as cidades do estado de São Paulo fecharam a “alimentação” das feiras, Jundiaí, através do CEC – Comitê de Enfrentamento ao COVID-19 e do Departamento de Abastecimento, se uniram para elaborar projetos que evitassem aglomeração e que permitissem o trabalho dos feirantes.
Foto ao lado – (Banca da família Hamazaki no Varejão Noturno do CECE Dal Santo em Janeiro de 2020)
Jundiaí e as feiras orgânicas e do produtor rural
Para aqueles que buscam produtos essencialmente rurais e com a certificação de órgão competente há alternativamente às feiras diurnas e noturnas as feiras do orgânicas e do produtor rural. Em tempos em que a busca pela alimentação saudável tem crescido exponencialmente Jundiaí, acompanhando essa tendência, uniu em programas de abastecimentos exclusivos mercadorias para nichos específicos.
Não seria exagero definir a feira com produtos orgânicos como a nova forma de comercializar produtos hortifrutigranjeiros, vez que a exclusividade que a feira tinha no passado se repete nos tempos atuais já que neste não há em grande quantidade mercadorias amplamente orgânicas como aqui.
Por uma felicidade particular as feiras orgânicas e do produtor rural, ambas muito recentes, estão localizadas com estacionamento exclusivo, algo não possível nas feiras diurnas e noturnas (mais antigas e em bairros essencialmente populosos). Diante disso, fica o convite para conhecerem as feiras orgânicas de Jundiaí que vêm para quebrar um paradigma, o que certamente contribui para que as feiras de Jundiaí atinjam todos os públicos, por mais específico que possam parecer.
A Feira do Produtor Rural é uma parceria da Prefeitura de Jundiaí com o SENAR, para formação da agricultura familiar e preparação de vendas. Hoje, ela está estabelecida Avenida Adilson Rodrigues, esquina com a Rua Giusepe Franco, no Jardim Samambaia. Nesta feira, só é possível vender o que é produzido na propriedade do feirante. Além disso, só mesmo a tradicional composição das feiras: pastel e caldo de cana.
Foto ao lado – (Banca da família Leoni na Feira do Produtor Rural, 2020)